quarta-feira, 16 de setembro de 2009

A Pen e o Apêndice


É o nosso mais recente apêndice externo, a Pen. Anda pendurada em porta chaves, em fitas ao pescoço, na algibeira do lenço do casaco, por dentro, com as canetas. Ou pelas malas sem fundo, pelas sacas, onde se confunde com o isqueiro bic recarregável em teoria e na prática descartável.

O apêndice é um orgão aparentemente excluído de função, que serve apenas para assustar com as dores, que podem ser dele ou não, mas que não se livra da suspeição de ser ele o culpado, quando é do lado esquerdo do baixo ventre que se trata. A apendicite é uma infecção que até pode ser factor de morte em pouco tempo, se peritonite não é hospitalarmente atalhada. Mas é raro. E foi um grande tema de práticas cirúrgicas de antanho, em massa, até meados dos anos 50-60, a par com a operação às amigdalas.

Apêndice porque pende, mas de onde ou de quê? Do intestino delgado, do ceco, que faz a transição para o intestino grosso. A ciência, na sua sabedoria transitória, pronunciava-se dizendo que o apêndice era um orgão vestigial. Teria servido em digestões passadas e depois seria marginalizado progressivamente, pelo menos no homem europeu.

"De acordo com novas pesquisas, ao contrário do que se sabe até hoje, o apêndice vermiforme pode ser importante para a sobrevivência de bactérias intestinais comensais e para a recolonização do cólon após diarreias ou uso de antibióticos que matam, além das bactérias patogénicas, também a flora comensal". É o que diz a transitória ciência de hoje sobre o Apêndice. Mas para casos de apendicite, mantém o remédio do passado, a cirurgia.

O espectro da palavra apêndice é largo, como o de alguns antibióticos. Vai desde o orgão no abdomén até ao nariz, dito o apêndice nasal. E tudo o que pende do corpo é um apêndice dele. Mas os apêndices são correntes em contratos e livros, são apensos ou anexos. Em geral é um complemento, mas às vezes nele se acoita matéria fundamental ou subtil, nomeadamente quanto se entra a fundo na letra e disposições de contratos.

Pen vem do inglês, caneta, e "pen" é da família do português "pena", pena de aves, nomeadamente a do pato, com que se escrevia em papel. Português do alto, como a pescada, mas que paira nos ares:

Vinde cá, meu tão certo secretário
dos queixumes que sempre ando fazendo,
papel, com que a pena desafogo!

...

Mas a nossa "pen", este nosso novo e externo apêndice, vem de pen e ainda de "drive", que no inglês técnico designa um suporte electrónico de dados. Um suporte altamente portátil para uns quantos Megas, agora já uns tantos gigas. Muita informação. até mesmo a humilde pena de 1 Giga daria para conter nela tudo o que realmente notável se escreveu e foi editado. Pelo menos dá para meter 500 Lusíadas.

A pen tornou obsoletos disquetes, discos gravados. Por enquanto, para informação mais sensível e maiores volumes, ainda é a opção disco externo que prevalece. Mais segurança. Mas ninguém dispensa a pen apêndice, o veículo ideal para levar e trazer músicas, fotos, grafismos, entre outras coisas. É a memória instantânea que nos acompanha pelos dias fora. Em inglês Flash Memory.

E não vá falar a estrangeiros em Pen, porque nem brasileiro ou espanhol entende. É só no meio português que "a pen" é assim tão falada, badalada e conhecida. Um apêndice que nos faz falta? Por enquanto, antes "passar à história" como as cabeleiras do tempo do marquês de Pombal. Já o apêndice ventral e os apêndices contratuais, é deles o futuro.

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